O crime no IJF, a eleição municipal e a opinião de empresários

Quem trabalha e produz em Fortaleza está preocupado com o crescimento dos índices de violência na capital do Ceará. Empresários ouvidos pela coluna manifestaram-se sobre o lado político do que aconteceu no IJF

Legenda: Foto do Instituto Dr. José Frota, onde aconteceu um crime que está tendo repercussão política e causando preocupação no empresariado
Foto: Arquivo DN

Na manhã da última terça-feira, 23, um homem entrou tranquilamente nas dependências do Instituto Dr. José Frota (IJF), do qual fora recentemente demitido, dirigiu-se ao refeitório e, diante de um ex-colega de trabalho e armado de um revólver, atirou várias vezes contra ele. Não satisfeito, usou uma faca e cortou a garganta do desafeto. Foi um crime passional, logo apurou a Polícia, que perseguiu e, poucas horas depois, prendeu o assassino em Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza. 

Por que esta nota policial está aqui, ocupando um espaço dedicado aos fatos da economia? Porque a capital do Ceará tem hoje altos índices de violência que preocupam empresários da indústria, da agricultura, do comércio e dos serviços. Trabalhar e produzir em ambiente hostil e inseguro é difícil e perigoso.

O caso em tela seria mais um fato a alargar as estatísticas da criminalidade da quarta mais populosa cidade do Brasil, se, infelizmente, até a violência está aqui politizada.

Imediatamente depois que os sites jornalísticos divulgaram esse assassinato, o prefeito de Fortaleza, José Sarto, do PDT, emitiu pelas redes sociais uma opinião sobre o ocorrido, o que motivou imediata resposta do governador Elmano de Freitas, do PT, que, usando o mesmo canal de comunicação – a internet – rechaçou a opinião do chefe do Executivo municipal.   
Um debate assim – travado publicamente através mídias sociais e logo transferido para os sites jornalísticos – acendeu a luz amarela de advertência do empresariado cearense.

Corte para a ação deste colunista que, ontem, na hora do almoço, usou o telefone para ouvir opiniões de empresários com negócios nas diferentes atividades econômicas a respeito desse inusitado acontecimento. Teve sucesso na sua colheita. Ei-la:

O dono de uma rede de supermercados, antes de falar, solicitou – e obteve – o anonimato, concedido também aos outros entrevistados. Ele disse: 

“É lamentável que nossa política, não só aqui no Ceará, mas em todo o país, tenha descambado para esse nível de discussão. Não me recordo de um debate tão mesquinho como esse, causado por um fato 100% policial, que deveria ter ficado restrito às investigações da Delegacia da área onde se deu o crime. Temo que a campanha eleitoral deste ano enverede por caminhos nunca palmilhados pelo eleitor de Fortaleza. Se há na capital do Estado essa lamentável polarização, imagine o que não poderá acontecer em cidades médias e pequenas do interior do Ceará.”

Um pecuarista, dono de grande rebanho de gado bovino leiteiro, foi cirúrgico ao opinar:

“Parece que os políticos jogaram o interesse público na lata do lixo. O que parece estar valendo hoje – não só em Fortaleza, mas em todo o Ceará – é a máxima de que tudo pode ser feito para eleger ou reeleger o prefeito. Estou acompanhando de perto a movimentação política no sertão, e lá as coisas estão mais ou menos parecidas com o que ocorre na capital, ou seja, todos batalhando em defesa do seu próprio interesse, esquecendo o interesse da coletividade. É triste dizer isto, mas é a verdade.”

Um varejista, com lojas de confecções instaladas em ruas e em   shoppings centers condenou o comportamento do prefeito e do governador, mas manifestou natural cautela com as palavras:

“O governador Elmano de Freitas e o prefeito José Sarto têm graves responsabilidades, assumidas desde quando tomaram posse do mandato que o povo lhes outorgou. Quando a disputa política se exaspera, provocando o acirramento do debate, como agora acontece, a autoridade comete deslizes que devem ser vistos como próprio dessa circunstância. 

“No embate público travado pelo governador do Estado e pelo prefeito da Capital em torno do crime no IJF, é de bom senso entender que isso, por mais estranho e revoltante que pareça, faz parte do cenário de campanha eleitoral. Para mim, o caso não tem, nem deve ter a gravidade que lhe pretendem emprestar.”

Por fim, um industrial metalúrgico acima dos 60 anos, com a cabeça enfeitada de cabelos brancos, sentenciou: 

“Se houvesse uma terceira força, uma terceira via, um terceiro candidato com capacidade de meter-se no meio dessa polarizada disputa pela Prefeitura de Fortaleza, haveria chance de uma surpresa em outubro. Essa terceira força até poderá surgir, mas terá dificuldade operacional para viabilizar o seu discurso e a sua candidatura. É a minha opinião”.

Fecha o pano!

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