Julho em Fortaleza, a cidade se metamorfoseia pelo lazer

A urbe retoma o que talvez seja uma de suas funções originárias: lugar de festa, servir ao ócio e ao lazer

Legenda: Os dias ensolarados, os ventos abundantes e as águas quentes do mar são predominantes em Fortaleza
Foto: Fabiane de Paula

Os dias ensolarados, os ventos abundantes e as águas quentes do mar são predominantes em Fortaleza. Estamos em meados de julho, a cidade se transforma. A urbe retoma o que talvez seja uma de suas funções originárias: lugar de festa, servir ao ócio e ao lazer. Principalmente se nos apoiarmos no modelo cultural urbano e ocidentalizado, não é estranho usar o tempo de não trabalho como tempo de lazer, servindo às brincadeiras, às viagens e às festas.

Neste período, as escolas param por aproximadamente 30 dias. Milhares de crianças e jovens surgem com muito tempo livre e, sedentas por diversão, buscam reverter seus cotidianos monótonos baseados no percurso casa-escola-casa. Eles querem mais da cidade. E o que Fortaleza pode oferecer?

Os shoppings e os cinemas são opções comuns, mas dificilmente são acessíveis sem custos. Podem até ser visitados uma ou duas vezes; porém o mês é longo e, para a maioria das famílias, o orçamento é limitadíssimo. Bares, restaurantes, parques de diversão seguem a mesma lógica comercial e, assim, também pouco acessíveis.

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As baladas e os festivais igualmente avolumam-se em julho. São atrativos para os moradores e para os turistas. Reinventam, sazonalmente, setores da cidade, criando as mini cidades da diversão. Infelizmente, são eventos fechados, caros e, por consequência, criam barreiras à popularização no que se refere aos brincantes.

No mês de julho se aguça aquela ausência de que tanto mencionamos em outros textos. Ou seja, para nossa cidade se metamorfosear por completo nos faltam mais opções públicas de lazer. Somos carentes de lugares abertos e democráticos, onde se possa aproveitar do tempo livre e gozar de momentos de diversão. Somos pobres em diversidade e quantidade de espaços públicos.

Quando há opções de qualidade o uso flui e a população faz valer o seu direito. Basta visitar os dois principais espaços públicos de lazer da nossa cidade que essa afirmação é confirmada. Dou dois exemplos: o Parque do Cocó e a orla marítima.

Legenda: Quando há opções de qualidade o uso flui e a população faz valer o seu direito
Foto: Fabiane de Paula

No primeiro, raridade e patrimônio verde de Fortaleza, tem suas estruturas muito bem incorporadas ao lazer por famílias de todas as classes. As crianças se divertem nos brinquedos e correm livremente nos gramados. As trilhas são deliciosas oportunidades para apreciar fauna e flora na ecologia urbana. O Parque até lembra os antigos quintais das grandes casas das vovós, onde os netinhos brincavam subindo em árvores e simplesmente eram felizes.

Para o segundo exemplo acho que não precisa de muita apresentação. A orla de Fortaleza - principalmente nos bairros Praia de Iracema, Meirelles e Mucuripe – é a principal centralidade de lazer da capital do Ceará. Lotam-se os calçadão, a areia da praia e o mar para a prática de dezenas de atividades.

Da bicicleta ao surf, esportes e passatempos transformam aquele território urbano no maior e mais apreciado espaço público da cidade. Manhã, tarde ou noite, o calçadão ganha usos e usuários incrivelmente diferentes, produzindo um colorido social.

Legenda: Manhã, tarde ou noite, o calçadão ganha usos e usuários incrivelmente diferentes, produzindo um colorido social
Foto: Kid Júnior

Há um outro trecho da orla muito bem apropriado. Falo do litoral da Barra e no entorno da estrutura do Vila do Mar. É isso, não só de Beira-Mar vive a diversão no mar. A praia naquele canto de Fortaleza é sonoro, é cheia, é divertida; é a cara autêntica do nosso povo.

Uma conclusão é óbvia: os fortalezenses querem se divertir e, para tanto, opções obrigatoriamente devem ser ofertadas. Diante deste quadro, penso na necessidade de ações públicas em duas escalas: a do bairro e a da cidade.

Na primeira escala sugiro política intensa de criação e renovação de espaços de lazer. Em palavras diretas, aproximar das áreas densamente povoadas opções de lazer de qualidade. Qual é o grande parque e espaço público localizado no Grande Bom Jardim? E nas proximidades do Conjunto Palmeiras?

Na escala do todo, da cidade, a sugestão se baseia na ampliação da mobilidade urbana nos tempos de lazer. O sistema de transporte, seja em termos de quantidade ou qualidade, pensa geralmente os usuários apenas como trabalhadores/as e “esquece” de ligar os bairros populares aos principais espaços de lazer da cidade. Vocês já pensaram o quão difícil é se deslocar, em um domingo, do bairro Pedras em direção à Beira-mar?

O uso lúdico, o lazer, é talvez uma das formas mais eficientes de conhecer a cidade. Uma cidade boa para o lazer de seus habitantes, certamente será excelente para qualquer visitante. Em suma, melhorar as condições urbanas de lazer para todos e todas fortalezenses é também uma estratégia de turistificação da cidade.

Então, que tal pensar nisso com mais carinho? Agora, é minha vez de desligar o computador e tentar aproveitar os momentos de lazer. Quem puder, aproveite também!