O atraso, nos copinhos de chá

Escrito por Gilson Barbosa ,
Jornalista
Legenda: Jornalista

Há alguns dias, fazendo compras no supermercado e à espera de atendimento na fila do caixa rápido – nem sempre tão rápido assim, diga-se de passagem! - , tive a exata ideia da realidade comportamental em que vivemos. Numa daquelas pequenas gôndolas plásticas colocadas logo à entrada da passagem para o tal caixa repousavam num cantinho, uns sobre os outros, três copinhos de chá, sujos e inadequadamente acumulados, à vista de todos os clientes que ali passavam. Bem adiante se encontrava um pequeno cesto de lixo, onde naturalmente as pessoas poderiam jogá-los da forma correta.

Entretanto, ou por desatenção, ou por falta de educação mesmo, os clientes que ali seguiam continuavam acumulando outros copinhos. Aquela circunstância levou-me a pensar no quanto estamos distantes de atitudes mínimas que deveríamos tomar, enquanto indivíduos, consumidores, clientes ou qualquer outra condição similar, para que pudéssemos classificar nosso contexto social de minimamente civilizado. Se as pessoas não querem, não compreendem ou não querem entender que o local certo para se depositar singelos copinhos descartáveis é o cesto de lixo que está logo à frente de seus olhos; se preferem agir preguiçosamente, talvez até para confrontar a lógica das coisas, em situação tão banal, é porque continuamos, como sociedade, muito atrasados no quesito da educação, da cidadania e até da educação e dos cuidados com a higiene dos locais que frequentamos.

Tal postura, vista como corriqueira e natural por muitos, irradia-se para muitas outras situações do nosso dia a dia. Assim a mesma falta de civilidade, de cidadania, de respeito, de senso de coletividade pode ser constatada no trânsito, onde impera a falta de respeito de muitos guiadores e motociclistas para com a legislação vigente, infringindo-a impunemente, contando com a conivência da autarquia de trânsito que deveria atuar com rigor e, entretanto, não o faz. Falta respeito na convivência entre as pessoas nos mais diversos ambientes, como vemos nas escolas e nos hospitais públicos, em eventos populares, até na relação entre pessoas que possuem pontos de vista diferentes no que tange a temas como política e religião.

Falta tolerância até no esporte, onde grupos criminosos se reúnem para criar confrontos absurdos, assassinando torcedores do time adversário ou até agredindo covardemente os atletas dessa mesma equipe, simplesmente por existirem na esfera esportiva! Sem dúvida, aqueles copinhos acumulados, em seu silêncio e esquecimento, intencional ou não, nos dizem muito a cada um, nesta reflexão. Haverão de passar ainda muitas gerações para que venhamos a ter, quem sabe!, um Brasil minimamente civilizado sob o ponto de vista da harmonia entre as pessoas. Longe ainda estamos disso. Triste e real constatação!

Gilson Barbosa é jornalista

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