Entenda por que as mortes por Covid-19 de pessoas vacinadas precisam ter maior rigor na investigação

Com menor agressividade da doença, pacientes têm sido acometidos por infecções secundárias que complicam o quadro de saúde

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Legenda: Avaliação das mortes precisa ser feita de forma "minuciosa", conforme Antonio Lima
Foto: Helene Santos/ESP

Uma morte por Covid-19 a cada três dias em 2023. Esse é o cenário epidemiológico de óbitos pela doença no Ceará até o início de fevereiro, de acordo com o monitoramento da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa). Ao contrário de ondas anteriores, quando morreram centenas de pessoas diariamente, até mesmo definir a doença como causa da morte tem sido mais difícil.

A informação é do epidemiologista Antonio Lima, secretário executivo de Vigilância em Saúde da Pasta, durante apresentação do plano de vacinação com o imunizante bivalente a partir do dia 27 de janeiro. A coletiva de imprensa ocorreu na última sexta-feira (10).

De acordo com o gestor, muitas vezes, como grande parte da população está vacinada, a pessoa não apresenta os sintomas da Covid-19 e, aparentemente, vai a óbito por causa de outra doença, no entanto, quando ocorre a investigação minuciosa da causa, acaba-se descobrindo que o paciente estava infectado pelo novo coronavírus. 

De 1º de janeiro a 8 de fevereiro, foram contabilizadas 12 vítimas da Covid-19 em todo o Estado. A última foi no dia 3 de fevereiro. Concentrando o maior acumulado durante a pandemia, Fortaleza não confirmou nenhum óbito até o momento.

As mortes em 2023 ocorreram em:

  • Crato (3)
  • Cedro (2)
  • Russas (2)
  • Limoeiro do Norte (1)
  • Tabuleiro do Norte (1)
  • Assaré (1)
  • Araripe (1)
  • Jardim (1)

“A particularidade agora é que são óbitos que quase sempre precisam de uma investigação minuciosa. Isso não acontecia no início, antes da vacina, quando a doença tinha agressividade imensa, imediata, com pneumonite - a agressão de vias aéreas superiores. O paciente tinha falta de ar e terminava falecendo”, explica Antonio.

Atualmente, com pacientes vacinados, os óbitos acometem mais idosos, sobretudo acima de 75 anos, com comorbidades. Geralmente, eles apresentam quadro respiratório e desenvolvem uma pneumonia, “uma sobreinfecção bacteriana” (infecção secundária). “Daí nossos comitês terem que se reunir para confirmar”, diz o epidemiologista.

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Circulação do vírus continua

Mesmo com baixa de casos, o coronavírus continua circulando em todo o Ceará e exige monitoramento dos órgãos oficiais. Neste ano, já foram confirmados 1.651 casos, uma média de 40 por dia.

“É um número pequeno, mas indica circulação. A eliminação está meio fora de cogitação e pode haver declínio da imunidade, daí a necessidade da vacinação anual de reforço, clássica, como fazemos com a própria influenza”, defende o secretário-executivo.

Na quarta semana epidemiológica do ano, a taxa de positividade no Estado foi de 0,9%. Antonio percebe que a taxa pode ser mascarada pelo cálculo com base apenas nos testes RT-PCR, chamados de “padrão ouro” de detecção.

Hoje, conforme o especialista, a maioria da aplicação é de testes rápidos, incluindo os autotestes vendidos em farmácias e que podem ser feitos em casa. “Recomendamos aos municípios monitorar também os testes rápidos”, sinaliza. 

Preparação da rede de saúde

Tânia Mara Coelho, médica infectologista e titular da Sesa, garante que não há aumento na demanda de internações por Covid-19 na rede estadual. Pacientes que ainda assim precisem de assistência são encaminhados ao Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ).

Atualmente, a preocupação dos gestores é o aumento de viroses respiratórias em crianças. Por isso, durante a coletiva de imprensa, foi apresentado um plano de contingência para o Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), referência da rede em Fortaleza, prevendo o aumento dessas enfermidades no próximo mês.

“Hoje não temos essa sobrecarga, mas queremos ter a situação sob controle. Vamos ter reunião com hospitais da rede para nos preparar porque as infecções respiratórias podem complicar não só em crianças, mas também nos adultos”, projeta Tânia.

Festas de Carnaval

A secretária não demonstra tanta apreensão no período carnavalesco porque, mesmo após os festejos de Réveillon, “não tivemos repercussão” no aumento de casos de Covid-19. 

Porém, ressalta que a Sesa permanecerá monitorando a incidência em todos os municípios para, caso seja necessário, acionar as superintendências de saúde e orientar a população local. Além disso, planeja desenvolver campanhas educativas sobre a importância da vacinação.

Proteção vacinal

Antonio Lima lembra que o Ceará só tem uma situação confortável de controle da doença porque a cobertura vacinal atingiu bons patamares: quase 90% da população completou o esquema primário com duas doses; 71% receberam a D3, e 65% concluíram a D4. 

Assim, ele estimula a procura pela vacina bivalente entre os grupos já autorizados pelo Ministério da Saúde, que terão a aplicação iniciada no dia 27 de fevereiro, garantindo proteção contra a variante Ômicron e suas linhagens.

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