Enel demorou a levar crise a sério e só agora tem plano para o Ceará. Isso basta?

Com novo presidente e plano de R$ 4,8 bilhões, empresa, enfim, dá resposta à sociedade, mas ainda é preciso que as autoridades façam marcação cerrada

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Depois de um longo período de negligência, a Enel parece, enfim, ter despertado da câmara de criogenia onde ficou nos últimos anos.

Em abril, a companhia italiana, com um atraso colossal e inaceitável, frise-se, resolveu finalmente conceder sinalizações mais sérias à sociedade cearense em relação ao que pretende fazer para estancar a sangria.

Novo presidente

Nunes de perfil. No fundo, aparece um telão da Enel
Legenda: O executivo José Nunes de Almeida Neto foi anunciado o novo diretor-presidente da Enel Distribuição Ceará no último dia 4 de abril
Foto: Thiago Gadelha / SVM

O primeiro passo foi anunciar o novo presidente, José Nunes de Almeida Neto, executivo com mais de quatro décadas de experiência no setor e respeitado dentro da própria empresa, desde os tempos de Coelce. Em momentos críticos como o que a companhia enfrenta, a troca de comando costuma ser um aceno importante ao mercado. Trata-se de um movimento natural no cosmos corporativo, mas, nesse caso, houve demora incompreensível na ação. 

Foi preciso se avolumar um Monte Everest de problemas e denúncias de consumidores residenciais, empresários e políticos, com direito até a CPI, para a Enel, enfim, acusar o golpe e arquitetar um plano contundente que possa vir a melhorar a qualidade dos serviços prestados, se é que isso de fato ocorrerá.

A lentidão denota inobservância com a enxurrada de adversidades às quais os cearenses são submetidos diariamente, com oscilações e interrupções no fornecimento de energia; prazos inadmissíveis para ligação de energia elétrica em novos empreendimentos, o que prejudica a economia local; e até casos chocantes como o do Beach Park, que precisou fechar por um dia por falta de energia.

Por essas e outras, 60% dos cearenses se dizem insatisfeitos com os serviços da Enel, conforme pesquisa do Instituto Opnus, divulgada com exclusividade pelo Diário do Nordeste.

Plano de R$ 4,8 bilhões

A empresa anunciou, na semana passada, que executará um plano estruturado de ações para fortalecer a distribuição de energia, com previsão de investir R$ 4,8 bilhões até 2026. A cifra é relevante, pois significa uma expansão de 44% sobre a média de aportes nos últimos seis anos. Trocando em miúdos, a Enel, finalmente resolveu abrir a carteira.

Os investimentos incluem a contratação de mais de 1,7 mil novos colaboradores e ampliação da infraestrutura logística e modernização da rede elétrica. A Enel projeta mais de 50 mil manutenções e 320 mil podas e inspeções em 90 mil pontos da rede elétrica no Estado, além da construção de quatro novas subestações até 2026.

Pela primeira vez desde o início da turbulência, a empresa se prestou a apresentar aos cearenses um programa robusto que mostre compromisso em entregar aos consumidores um bom serviço, assim como fazia a Coelce, que era um destaque nacional em qualidade.

O plano gera expectativa positiva, mas isso não é suficiente. É preciso que as autoridades fiscalizem de perto os próximos passos. Mesmo porque, na prática, a hipótese de a Enel perder a concessão antes do fim do contrato se aproxima de zero. E, a preço de hoje, a venda da empresa é igualmente improvável, afinal, a tentativa da controladora italiana de se desfazer do ativo no Ceará não andou.