Lojas da 'Shopee do Centro' de Fortaleza ganham fama na internet com produtos chineses a preços baixos

Comércios não têm qualquer relação com os marketplaces Shopee, de Singapura (Sea Group), e Aliexpress, pertencente ao grupo chinês Alibaba, mas foram apelidadas dessa forma por venderem uma grande variedade de produtos facilmente encontrados nessas plataformas

Legenda: Espaço conta com várias bolsas e outros objetos que são bem característicos de marketplaces como Shopee e AliExpress
Foto: Fabiane de Paula

Enquanto grandes varejistas nacionais estão deixando o Centro de Fortaleza, lojas que vendem produtos importados como bolsas, acessórios de celular, maquiagens e mais uma (quase) infinidade de objetos se popularizam ao ganhar espaço em redes como TikTok, Instagram e YouTube.

Apelidadas pelos consumidores de “Shopee do Centro de Fortaleza”, elas estão localizadas em algumas das tradicionais ruas do bairro comercial. Os vídeos somam milhares de curtidas e centenas de comentários. A verdade, porém, é que as lojas não têm qualquer relação com os marketplaces Shopee, de Singapura (Sea Group), e Aliexpress, pertencente ao grupo chinês Alibaba, mas foram apelidadas dessa forma por venderem uma grande variedade de produtos facilmente encontrados nessas plataformas. 

No TikTok, por exemplo, usuários mostram a loja Myno, que fica na Rua Barão do Rio Branco e é uma das mais emblemáticas com a alcunha. “Fica no Centro de Fortaleza e tem de tudo. AliExpress e Shopee”, diz uma influenciadora enquanto mostra os corredores do espaço comercial.

Veja também

“Nova loja da Shopee em Fortaleza! Com itens a partir de R$ 1 muita coisa boa e barata”, diz uma outra usuária da rede social, enquanto filma uma seção de acessórios para o lar dentro do comércio.

Legenda: Loja no Centro de Fortaleza que ganhou nas redes sociais a alcunha de "Shopee do Centro"
Foto: Fabiane de Paula

A loja em questão possui prateleiras a perder de vista. Há corredores inteiros de bolsas e vários compartimentos dedicados a acessórios de cabelo, maquiagens, espelhinhos, itens para banheiro e cozinha, garrafas, produtos pet e até difusores de ambiente à venda. De fato, com preços que se assemelham aos praticados nos marketplaces.

No dia em que a colunista que vos escreve esteve no local - conheci justamente depois de alguns vídeos no TikTok sobre a “Shopee do Centro de Fortaleza” -, o espaço estava movimentado. Não lotado, mas com uma fila consideravelmente grande no caixa.

'Shopee do Brás'

Não chegava a ser a “Shopee do Brás”, de perfil semelhante, porém no Centro de São Paulo e cuja fama também "nasceu" na internet. Digo que não chegava a ser isso porque, na “Shopee do Brás”, chegam a ser distribuídas senhas para os clientes e as filas ultrapassam os limites físicos da loja.

O consultor de empresas e professor da Faculdade CDL Christian Avesque avalia o fenômeno - que como podemos ver, não é exatamente específico do Centro de Fortaleza. De acordo com ele, os centros das cidades estão cada vez mais deixando de ser lugar das grandes varejistas para dar espaço às lojas mais populares. “Vejo como uma tendência sem volta”.

Os produtos são, sobretudo, importados da China - a mais importante parceira comercial do Ceará quando o assunto é importação. A China respondeu, em 2023, por 39% (em US$) do volume comprado de fora pelo Ceará, de acordo com dados do Comexstat, plataforma do Governo Federal que compila dados sobre comércio exterior.

Os itens que vêm de fora e chegam às prateleiras das “Shopees” de rua podem vir diretamente da China para o Ceará ou por meio de importadores atacadistas de São Paulo, que repassam a mercadoria para as lojas de Fortaleza.

“Alguns fornecedores no eixo Sudeste, grandes atacadistas, importam em alto volume e o lojista menor do Centro de Fortaleza consegue esse produto a um preço mais baixo, quase como se ele tivesse importado da própria China”, detalha Avesque.

Assim, as lojas conseguem oferecer preços quase tão atraentes quanto os observados em marketplaces como Shopee ou Aliexpress. Para uns, a vantagem é poder ir até o local no Centro e comprar o produto sem ter que esperar alguns dias até chegar. Por outro lado, há quem não abra mão da praticidade de comprar nesses sites e receber em casa.

“Principalmente depois da pandemia, o consumo de produtos de utilidade, de baixo valor agregado, de armarinho, cosmético, roupa, meia, cueca, 'gadgets', tudo isso migrou fortemente para a internet com os marketplaces que são grandes hubs que vendem produtos deles e de terceiros", arremata Christian Avesque.

 



Assuntos Relacionados