Aedes aegypti pica à noite? Entenda comportamento do ‘mosquito da dengue’ e saiba como se proteger

Autoridades de saúde alertam que o Ceará precisa manter “guarda alta” e intensificar prevenção a arboviroses

Escrito por Theyse Viana e Lucas Falconery , ceara@svm.com.br
Agente de endemias verifica possíveis larvas do mosquito Aedes aegypti em caixa d'água em Fortaleza
Legenda: Reservatórios de água, vasos de plantas e calhas podem se tornar criadouros do Aedes aegypti, o "mosquito da dengue"
Foto: Fabiane de Paula

Com a epidemia de dengue em algumas regiões do Brasil, uma publicação no X (antigo Twitter) já acumula mais de 6 milhões de visualizações ao levantar um questionamento: “o mosquito da dengue (Aedes aegypti) não pica mesmo depois das 18h?”

Em resposta, milhares de usuários da rede social compartilham da dúvida. O Diário do Nordeste conversou, então, com especialistas para entender o comportamento do Aedes aegypti e reforçar as medidas de prevenção contra a dengue e as demais arboviroses no Ceará.

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O Aedes aegypti pica à noite?

Ana Cabral, coordenadora de vigilância epidemiológica da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), explica que, por hábito, “existem alguns horários em que realmente o mosquito está mais no ambiente: pela manhã cedinho e no final da tarde”.

Ela frisa que é por isso que ações de controle como o carro fumacê são realizadas nesses horários “porque elas pegam o mosquito alado, que está voando no ambiente, transitando na residência”.

O mosquito ‘da dengue’ chega a locais altos?

Outra dúvida comum é sobre a que altitude o inseto pode chegar. Ana Cabral pontua que morar em lugares altos “pode até ser uma proteção, mas não quer dizer que você não vai ter contato com o mosquito ou não está predisposto a contrair dengue”.

“Hoje em dia, pessoas que moram no 12º andar, por exemplo, podem ter presença dos criadouros em casa e adoecerem”, complementa a coordenadora de vigilância da Sesa.

Roberta de Paula, coordenadora da Vigilância Ambiental da Sesa, acrescenta que o mosquito Aedes aegypti “é doméstico e totalmente adaptado ao Ceará.

“Se houver locais propícios pra ele ficar na casa da pessoa, ele ficará. Não gosta de água suja, é um mosquito exigente, e se disfarça pra ficar em locais inusitados. O mosquito sobe até de elevador”, cita.

A especialista adiciona ainda que calhas, tampa do refrigerador de água da geladeira, tampinhas de garrafa, peças de brinquedo e até vasos de plantas ornamentais em casas ou apartamentos podem se tornar criadouros do Aedes aegypti.

Usar roupa preta atrai o Aedes aegypti?

Sim, isso é verdade. A coordenadora de Vigilância da Sesa, Ana Cabral, destaca que as chamadas “barreiras físicas” podem ser aliadas na prevenção à picada do mosquito transmissor de dengue, zika e chikungunya.

“Se você usar uma calça comprida, por exemplo, você vai evitar a exposição da pele e diminuir o contato do mosquito. Cortinas, telas e roupas claras, porque as escuras chamam o mosquito, também são aliadas”, frisa.

Como se proteger da picada do Aedes aegypti?

Agente de endemias limpa calha para prevenir proliferação do mosquito Aedes aegypti
Legenda: Agente de endemias limpa calha para prevenir proliferação do mosquito Aedes aegypti
Foto: Fabiane de Paula

A principal recomendação para prevenir a incidência de arboviroses é eliminar os possíveis criadouros das larvas do mosquito. Segundo Ana Cabral, mais de 70% dos ambientes propícios ao desenvolvimento dele estão dentro das residências.

“Além do repelente, as principais medidas são as de controle, como evitar locais que possam acumular água ou lixo”, reforça.

Ainda sobre prevenção, Roberta de Paula explica porque a utilização do fumacê – o popular “carro da Sucam (Superintendência de Campanhas de Saúde Pública)”, como era conhecido até o início dos anos 2000 – não é estratégica para este momento no Ceará.

“Ela é bem eficaz, mas é mais resolutiva quando há cenário de casos: o fumacê mata mosquitos adultos, que estão voando. Quando aparece, é porque no seu bairro ou cidade está tendo casos, pra evitar que o Aedes transmita os vírus de uma pessoa a outra”, diz.

A especialista ensina, ainda, que se utilizado indiscriminadamente, o fumacê gera resistência nos mosquitos. “Quando isso acontece, trocamos o inseticida – mas não aparece um novo a cada ano. Temos que usar de forma racional.”

Casos de dengue no Ceará

Ao contrário de regiões como Sul, Sudeste e Centro-Oeste, o Ceará vive um cenário de baixas notificações de dengue: “mas não é por isso que podemos deixar de nos preocupar com as arboviroses. Esse é o momento de intensificar as ações de prevenção e controle”, alerta Ana Cabral.

Já Roberta lembra que a chegada da quadra chuvosa favorece o surgimento de criadouros – “então é preciso que a população fique alerta, uma vez por semana é importante as pessoas tirarem 10 minutos pra observar minuciosamente sua casa e eliminar os focos”.

Márcio Garcia, diretor do Departamento de Emergências em Saúde Pública do Ministério da Saúde, também alerta sobre os riscos deste período do ano.

"O Ceará está dentro da incidência esperada, abaixo do limite superior, mas não dá pra baixar a guarda. Historicamente, o pico de casos se dá entre abril e maio. A quadra chuvosa está aí, então esse cenário pode mudar."

Nos últimos 5 anos, a alta incidência de dengues tipo 1 e 2 no Ceará ampliaram a imunidade da maior parte da população, que “já teve a doença ou contraiu de forma assintomática”, como pontua Ana Cabral.

O sorotipo 3, porém, pode ser reintroduzido. “Faz anos que ele circulou aqui, teoricamente temos uma população suscetível. Temos uma preocupação, porque não sabemos qual seria a proporção dessa reintrodução, mas ele não causou grandes epidemias”, avalia Ana.

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