O Brasil que cultua um coração em um pote quando deveria se mobilizar por esperança

Legenda: No Brasil de indígenas, negros e pobres, precisamos entender a trajetória de nosso país de forma crítica
Foto: Shutterstock/ Photocarioca

Alcançamos ao bicentenário da Independência do Brasil. Há quem diga que o tempo passou voando, como aquela mãe que vê o filho crescendo e quando se dá conta, ele já é adulto. Pra mim, a sensação é de que o tempo passou arrastado, mesmo que desses 200, eu só tenha vivido 40.

Acho que esse sentimento surge da imensa apatia que vejo. Não só na sociedade como um todo, mas a minha também. A data me chegou com cansaço. É como se esse aniversário não fosse nosso também. Talvez por saber o quanto o atual governo tomou pra si esse dia, assim como fez com a camisa verde-amarelo. Há um vazio.

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O 7 de setembro seria uma excelente oportunidade pra que a gente, enquanto sociedade, refletisse sobre como estamos. Aquela data em que a gente fecha tudo pra fazer um balanço geral, reavaliar o que funciona e o que precisa ser descartado, ao invés de realizar uma ode somente às forças armadas.

Racismo, LGBTfobia, desigualdade social, machismo, fome e falta de acesso e fomento à cultura, por exemplo, seriam algumas das pautas que eu jogaria no balanço.

Quando faço aniversário, penso em tudo o que vivi e prospecto o que de melhor eu posso ser, fazer e viver no novo ciclo. Deveria ser assim com o Brasil, mas não é de interesse da atual gestão, totalmente indiferente à história. Sejamos honestos, eles pouco se importam em mobilizar o país para um futuro de esperança.

Bom mesmo deve ser trazer ao país o coração de um imperador, de alguém que nos liga aos anos de colonialismo e subserviência. E essa não é a primeira vez que restos mortais de Dom Pedro I são apresentados nas comemorações de Independência do Brasil. Sabe quando foi a última vez? Em 1972, durante a Ditadura Militar.

Talvez o motivo de estarmos em uma sociedade adoecida, machista, desigual, racista e desmemoriada esteja em quem tem o poder de contar a nossa própria história: homens brancos e de elite.

Só vamos conseguir nos libertar de tudo isso quando passarmos a entender a trajetória de nosso país de forma crítica. Quando? Ainda não sei. Só sei que tenho esperança e proponho que tenhamos todos.

* Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor