Com quem será que Zaquieu vai ficar?

Legenda: Torço muito por um final feliz para Zaquieu digno de folhetim das 9, com um amor lindo e correspondido
Foto: Reprodução/Globo

Nas últimas semanas, a novela Pantanal começou a apresentar uma nova curva na relação dos personagens Alcides, interpretado por Juliano Cazarré, e o meu Zaquieu. Esses personagens, inicialmente, foram bem antagonistas pelas suas essências, tanto que passaram a ser conhecidos como o Bruta e o Florzô. Entretanto, o público também começou a especular uma possível relação mais profunda entre eles, torcendo até para um final romântico.

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Diante dessa nova fase e por estarmos nos aproximando do final dessa super novela, tenho sido convidado para entrevistas em diversos veículos onde o que mais querem saber é spoiler do que vai acontecer, se eu posso revelar alguns finais como o de Zaquieu e Alcides. Irão eles terminar juntos? Irá acontecer um triângulo amoroso entre eles e Maria Bruaca?

Bom, essa paixão antagônica é um clássico da dramaturgia. Personagens como A Bela e a Fera, A Dama e o Vagabundo ou mesmo o clássico do cinema com Audrey Hepburn em My Fair Lady e o próprio Pantanal, na relação Juma e Jove. A diferença é que esses exemplos são todos heteronormativos e sempre acabam no encontro das diferenças como uma grande e bela paixão.

Mas e quando o assunto é uma relação entre dois homens? Estariam os telespectadores, mesmo com toda a revolução social que temos vivido sobre diversidade e respeito, mesmo como todo o didatismo das cenas, mesmo com todo o carisma que os personagens imprimem ou mesmo sendo uma ficção, preparados para um final romântico entre peões?

Em 2005, na novela América, a incrível Glória Pérez tentou emplacar o primeiro beijo gay na história da teledramaturgia brasileira com o personagem Júnior (Bruno Gagliasso) e o peão Zeca (Eron Cordeiro), mas não conseguiu, mesmo tendo a cena sido gravada e a novela reprisada em plataformas menos conservadoras, porém, sem esse final afetuoso entre homens gays.

Cena gravada em 2005 seria o primeiro beijo gay em uma novela da Globo, mas foi cortada do último capitulo de América
Legenda: Cena gravada em 2005 seria o primeiro beijo gay em uma novela da Globo, mas foi cortada do último capitulo de América

Já na primeira versão de Pantanal, de 1990, a novela construiu a relação de Zaquieu (João Alberto) e Alcides (Ângelo Antônio) na base do amor platônico. O personagem gay viveu outras várias situações diferentes do meu, que já falei aqui na coluna e, de fato, nutria um sentimento que nunca foi correspondido.

O que vou dizer agora não é um spoiler, pois também não sei até onde iremos caminhar nesta versão pantaneira de 2022, mas eu torço muito por um final feliz para Zaquieu digno de folhetim das 9, com um amor lindo e correspondido.

Afinal, passados esses 30 anos, não é mais possível ficarmos contentes com a imagem do homem gay que morre de amores pelo macho hétero e fica fadado à solidão.

Porém, outro ponto que acho super válido e necessário enquanto discussão em nossa sociedade e que a dupla de peões trazem é a real possibilidade de existência de uma amizade entre homens gays e héteros, sem qualquer interesse movido pelo amor ou por desejo sexual. Sim, héteros, vocês podem ser amigos de gays. Não é porque você é um homem que um gay necessariamente sentirá atração por você.

O fato é que Zaquieu merece ser feliz, independente de qualquer coisa, e essa é a minha torcida. Se não for por meio de uma paixão correspondida, que seja por uma amizade verdadeira. O que não podemos é mais uma vez limitar a imagem do homem gay ao estereótipo de sofrido, solitário, sem família e conformado com seu status.

* Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor